segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Nabucco


Mais uma vez a ópera tem lugar nesta página, desta vez porque consegui mostrar um pedacinho do espetáculo que tenho assistido todos os meses, a apresentação do Projeto Ópera-Café, no Centro da Cultura Judaica. A descrição deste projeto encontra-se nos posts abaixo, de 18/julho e 21/junho/2008.

Nabucco, de Giuseppe Verdi é um tema bíblico e conta a história da invasão de Jerusalém por Nabucodonosor, e o êxodo do povo hebreu, escravizado na Babilônia.

Reproduzo aqui o que garimpou Iacov Hillel, o diretor geral e de iluminação do projeto pelo "Libreto de Temistocle Solera":

"O que considero mais importante na temática de 'Nabucco' é a guerra das religiões. A luta pelo poder através da religião está aí até hoje. É um assunto atual. A música é de uma angústia tremenda. Verdi, quando compôs Nabucco, sofria a pior das dores: a morte de dois filhos e da mulher. Sua angústia e a procura desesperada por uma explicação para a imensa perda são elementos da força quase brutal da partitura de Verdi. As orações e as preces, de que 'Nabucco' também está repleta, revelam ainda o desejo de elevação do espírito."




"Va pensiero", o famoso coro dos prisioneiros, cujo tema é a saudade de Sion, a terra natal. Essa música coral foi adotada como hino pelos italianos na luta pela unificação da Itália, então sob o domínio austro-húngaro.

Quantas vezes eu já cantei esta música com o extinto "Coral São Manuel", sob a regência da saudosa Dona Carminha. Si, va, pensiero...

Va pensiero sull'ali dorate./Va', ti posa sui clivi, sui coll,/ove olezzano tepide e mollil'aure/ dolci del suolo natal!Del Giordano le rive saluta,/di Sionne le torri atterrate./O mia Patria, sì bella e perduta!/O membranza sì cara e fatal!/Arpa d'or dei fatidici vati,/perché muta dal salice pendi?/Le memorie del petto riaccendi,/ci favella del tempo che fu!/O simile di Solima ai fati,/traggi un suono di crudo lamento;/o t'ispiri il Signore un concentoche/ ne infonda al patire virtùche/ ne infonda al patire virtùal patire virtù!/
(Vá, pensamento, sobre as asas douradas/Vá, e pousa sobre as encostas e as colinas/Onde os ares são tépidos e macios/Com a doce fragrância do solo natal!/Saúda as margens do jordão/E as torres abatidas do sião./Oh, minha pátria tão bela e perdida!/Oh lembrança tão cara e fatal!/Harpa dourada de desígnios fatídicos,/Porque você chora a ausência da terra querida?/Reacende a memória no nosso peito,/Fale-nos do tempo que passou!/Lembra-nos o destino de jerusalém./Traga-nos um ar de lamentação triste,/Ou o que o senhor te inspire harmonias/Que nos infundam a força para suportar o sofrimento.)

(As informações acima, com exceção da letra e tradução foram tiradas do livreto do Projeto Ópera-Café)

domingo, 7 de setembro de 2008

Minha metáfora

(Navegar é preciso, voar também é...)

Quando comecei a participar do ORKUT fui convidada pela amiga
Sol para uma comunidade sobre poesia, a Sociedade dos Pássaros-poetas. Lá, todos os participantes deviam escolher um pássaro para associar ao seu nome e as postagens deveriam ser poemas de sua autoria ou de poetas já conhecidos, ou não. Encontrei nesse site pessoas que revelavam uma grande sensibilidade e maestria ao escrever, e outros que como eu, tentavam jogar algumas palavras ao vento, voar como pássaro-poeta.
Na época participei um pouco, mas como eu não sei fazer poesia, não fui em frente... No entanto, foi lá que encontrei minha metáfora, ser martim-pescador. De lá pra cá, fui me descobrindo...

Uma vez disse Rubem Alves,"ainda bem que há os poetas, que salvam os nossos olhos da mesmice. Os poetas são os mestres da arte de ver, que se dedicam a abrir os olhos dos cegos.” E eu digo, ainda bem que há os pássaros-poetas, eles salvam o nosso olhar das coisas fúteis que ofuscam o espaço virtual. Seu canto feito em bandos encanta a nossa alma e nos faz lembrar de nossa verdadeira identidade.

))§((

Ao assumir a insígnia da comunidade escolhi o pássaro Martim-pescador (kingfisher), porque me achei até bem parecido com ele, que não voa muito...

O Martim é comum em beira de rios, lagos, lagunas, manguezais e beira-mar, em todo o Brasil e também no sul dos Estados Unidos, no México e em toda a América do Sul. Ele passa a maior parte do tempo pousado sobre pedras e árvores mortas, observando a água. Ao avistar um peixe, mergulha diretamente em sua direção. Executa migrações locais na Amazônia, aparentemente devido à dificuldade de pescar em águas turvas - o que ocorre durante e após as chuvas - ou em águas onduladas e encrespadas. Em períodos de águas turvas, alimenta-se também de insetos.
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Photo by Lisa Sam67: original e outras

Eu também não sei voar como poeta. Em mim, as palavras não fluem como o vôo majestoso dos pássaros sagrados e consagrados do cosmos virtual. Não sei atirar versos linha abaixo revelando os muitos mundos, como fazem certos bichos voadores. Sou Martim, sou pescador. Vivo solitária sobre a pedra e olho pro rio. Procuro meu alimento que está a navegar por essas águas. Quando vejo o peixe-poema mergulho diretamente em sua direção. Mastigo-o e deglutindo seus pedaços sacio a minha fome. Se as águas estão turvas pelas cores, executo a migração, pego o peixe-imagem. Palavras ou imagens, vou metabolizando-as, uma a uma e incorporo-as em meu ser.

Na época fiz um

Lamento


No imobilismo de meu corpo sobre a pedra
o olhar navega sobre o fluxo das águas.
Os poemas saltitantes mostram-se e mergulham novamente
num correr sem fim.
A ânsia por devorá-los obriga-me a persegui-los até capturá-los.
As palavras deglutidas, incorporadas,
fazem de mim
um corpo denso
que resiste ao vôo.
Sinto o peso da metáfora que criei.


Martim-pescador

)) §((

Hoje, tempos depois, ao metabolizar as palavras e as imagens, estou aprendendo a devolvê-las ao ambiente na forma de um canto, um canto muito breve, o

canto dos haikais...

))§((