domingo, 7 de setembro de 2008

Minha metáfora

(Navegar é preciso, voar também é...)

Quando comecei a participar do ORKUT fui convidada pela amiga
Sol para uma comunidade sobre poesia, a Sociedade dos Pássaros-poetas. Lá, todos os participantes deviam escolher um pássaro para associar ao seu nome e as postagens deveriam ser poemas de sua autoria ou de poetas já conhecidos, ou não. Encontrei nesse site pessoas que revelavam uma grande sensibilidade e maestria ao escrever, e outros que como eu, tentavam jogar algumas palavras ao vento, voar como pássaro-poeta.
Na época participei um pouco, mas como eu não sei fazer poesia, não fui em frente... No entanto, foi lá que encontrei minha metáfora, ser martim-pescador. De lá pra cá, fui me descobrindo...

Uma vez disse Rubem Alves,"ainda bem que há os poetas, que salvam os nossos olhos da mesmice. Os poetas são os mestres da arte de ver, que se dedicam a abrir os olhos dos cegos.” E eu digo, ainda bem que há os pássaros-poetas, eles salvam o nosso olhar das coisas fúteis que ofuscam o espaço virtual. Seu canto feito em bandos encanta a nossa alma e nos faz lembrar de nossa verdadeira identidade.

))§((

Ao assumir a insígnia da comunidade escolhi o pássaro Martim-pescador (kingfisher), porque me achei até bem parecido com ele, que não voa muito...

O Martim é comum em beira de rios, lagos, lagunas, manguezais e beira-mar, em todo o Brasil e também no sul dos Estados Unidos, no México e em toda a América do Sul. Ele passa a maior parte do tempo pousado sobre pedras e árvores mortas, observando a água. Ao avistar um peixe, mergulha diretamente em sua direção. Executa migrações locais na Amazônia, aparentemente devido à dificuldade de pescar em águas turvas - o que ocorre durante e após as chuvas - ou em águas onduladas e encrespadas. Em períodos de águas turvas, alimenta-se também de insetos.
))§((

Photo by Lisa Sam67: original e outras

Eu também não sei voar como poeta. Em mim, as palavras não fluem como o vôo majestoso dos pássaros sagrados e consagrados do cosmos virtual. Não sei atirar versos linha abaixo revelando os muitos mundos, como fazem certos bichos voadores. Sou Martim, sou pescador. Vivo solitária sobre a pedra e olho pro rio. Procuro meu alimento que está a navegar por essas águas. Quando vejo o peixe-poema mergulho diretamente em sua direção. Mastigo-o e deglutindo seus pedaços sacio a minha fome. Se as águas estão turvas pelas cores, executo a migração, pego o peixe-imagem. Palavras ou imagens, vou metabolizando-as, uma a uma e incorporo-as em meu ser.

Na época fiz um

Lamento


No imobilismo de meu corpo sobre a pedra
o olhar navega sobre o fluxo das águas.
Os poemas saltitantes mostram-se e mergulham novamente
num correr sem fim.
A ânsia por devorá-los obriga-me a persegui-los até capturá-los.
As palavras deglutidas, incorporadas,
fazem de mim
um corpo denso
que resiste ao vôo.
Sinto o peso da metáfora que criei.


Martim-pescador

)) §((

Hoje, tempos depois, ao metabolizar as palavras e as imagens, estou aprendendo a devolvê-las ao ambiente na forma de um canto, um canto muito breve, o

canto dos haikais...

))§((

7 comentários:

Anônimo disse...

Não quero aqui iluminar o bosque porque aí estarei dissolvendo o mistério. Portanto nada de interpretações. Nada de sóis do meio dia a iluminar as funduras d'alma.
Só o poema em sombras absolutas revela a BELEZA.
Deguste seu alimento, martin!...bon apetit!

solfirmino disse...

Agora fotografas poemas em forma de haikais. Isso é vôo. Essa é a sua metáfora: vôo sem asa. A poesia está na sua busca. Falando em busca, procura, lembrei desse poema.
Leia:
http://memoriaviva.digi.com.br/drummond/poema025.htm

Anônimo disse...

Recorrendo ao inoxidável Chico Buarque: Ei, pintassilgo, oi, pintarroxo, melro, uirapuru. Ai, chega-e-vira, engole-vento, saíra, inhambu..., que pássaro seria eu?
Pela atração que sinto, uma coruja; pela megalomania, uma águia; pela inquietude, um canário; pelo lado urbano, um pardal...
Sei lá. Não consigo me definir, assim como não ouço minha voz com a sonoridade que me ouvem.
Então, com a palavra, os que me conhecem.
Neste caso, você.

Regina Célia disse...

Parabéns Vera, reabriu o blog com chave de ouro. Está tudo muito interessante, a foto cabeceira ficou maravilhosa. Desejo que alce vôos cada vez maiores, ao estilo Fernão Capelo Gaivota. Nunca pensei em adotar um pássaro, mas já fui adotada por 3, acho que isso é um bom sinal. Em tempo: navegar e voar tb podem não ser precisos.

Anônimo disse...

Tia Vera, meu comentário????Nao tenho palavras para digitar.....só sei dizer 10 nota dez para voce meu exemplo.....minha admiradora....meu tudo!!!!Te AMO!
Lucilene

ana dundes disse...

Vera, sinto falta das nossas (breves) prosas nas esquinas dos corredores
Aproveita bem a alforria!

Anônimo disse...

Vera,
É muito interessante sua metáfora...
"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive." (Ricardo Reis/F.Pessoa)

Assim vejo vc.

"Há um primavera em cada vida;
É preciso cantá-la assim florida.
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!" (Florbela Espanca)

ISTO
"Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!" (Fernando Pessoa)